O Baile dos Ardentes

André Pimenta
2 min readMar 21, 2021

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Em 1393 ocorreu um incidente conhecido como “Baile dos Ardentes”. Uma entre as inúmeras festas que ocorreram na corte francesa sob o pretexto de manter a sanidade do jovem Carlos VI sob controle (mais sobre “O Rei Louco” em um futuro post).

Baile dos Ardentes pelo Mestre de Antônio de Borgonha (c. 1470), que mostra um dançarino no tonel em primeiro plano, Carlos VI encolhido sob a saia da duquesa de Berry no centro esquerdo, e dançarinos no centro queimando

Isabel, esposa de Carlos, promoveu a comemoração do terceiro casamento de sua dama de companhia — casamentos para além do primeiro eram vistos como subversivos e dignos de uma festa derrisória. Um grupo de cavaleiros mascarados, incluindo o Rei, realizou uma performance trajados como “homens da floresta”. Os figurinos eram feitos de linho embebido em resina para que parecessem peludos da cabeça aos pés.

Georges-Antoine Rochegrosse, Le bal des ardents (1889)

Estavam todos unidos por correntes, uivavam como lobos e diziam obscenidades. Foi quando Luís, duque de Orleães e irmão do Rei, entrou atrasado e bêbado e no salão escuro a carregar uma tocha. Ao aproximar-se de um dos mascarados para descobrir a sua identidade, incendiou-lhe sem querer. O fogo então espalhou-se rapidamente entre os participantes. Os homens gritaram de dor enquanto ardiam em seus trajes e o público, muitos deles também a sofrer queimaduras, tentavam resgatar os dançarinos.

O Baile dos Ardentes retratado em uma miniatura do século XV das Crônicas de Froissart. A duquesa de Berry prende suas saias azuis sobre o pouco visível Carlos VI de França, enquanto os dançarinos rasgam suas roupas em chamas. Um dançarino pulou para dentro do tanque de vinho; na galeria acima, músicos continuam a tocar

Isabel desmaiou ao imaginar que um deles poderia ser o seu marido. O Rei, no entanto, estava naquele momento a uma certa distância dos outros mascarados, a falar com sua tia, a duquesa de Berry, que imediatamente jogou a saia volumosa sobre ele para protegê-lo. Apenas um cavaleiro sobreviveu para além do rei, ao pular em um tonel de vinho aberto. Outro cavaleiro, o que havia promovido a performance, sobreviveu apenas por mais um dia, amargamente amaldiçoado e insultado por seus companheiros.

Miniatura intitulada “Fogo em um baile de máscaras” das Crônicas de Froissart, pelo Mestre de Getty Froissart (c. 1483, Bruges)

Uma grande comoção varreu Paris, era preciso expurgar toda a depravação que havia tomado a corte. Muito preocupados com uma possível repetição da revolta da década anterior, os tios do rei convenceram a corte a fazer penitência na catedral de Notre Dame. A reputação de Luís de Orleães foi severamente danificada e ele passou a ser acusado de feitiçaria e tentativa de regicídio.

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André Pimenta
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Written by André Pimenta

Writing a historical fiction about power and madness at the golden age of folly in 1470’s Flandres.

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